Aviso: este é um texto de superlativos. Lettieres Leite e sua Orkestra Rumpilezz merecem. Para mim, é a melhor e mais importante “coisa” a acontecer na música brasileira em uns 10 anos. Simples (ou complexo) assim.
O show deles na Virada Cultural, a primeira apresentação deles em São Paulo, foi a abertura de um mundo para os (poucos) que lá estavam. Muitos músicos simplesmente choraram. Muitos.
O maestro Lettieres reuniu um grupo de percussionistas com músicos de formação jazzística ou erudita da Bahia para, a partir da riqueza rítmica do candomblé, cria música jazzística. De novo, simples assim.
Mas nada simples e tudo muito rico. Nada de uso “Paul Simon” dos ritmos baianos, nada de exótico, de orientalismos ou carlismos, de objeto. Tudo sujeito de sua própria história, e história de indivíduos livres, de músicos felizes tocando juntos e nos reatando com algo ancestral não porque é do passado, mas porque é de dentro, de todos os tempos, do futuro também.
No show da Orkestra, a percussão ocupa o centro do palco, e vem vestida de roupa de gala. Os metais a cercam, com seus músicos vestidos de bermuda e camiseta. Todos de branco. A complexidade da percussão tece melodias e solos. Os metais também fazem ritmo.
E quem inventou essa divisão? E quem inventou que a melodia e a harmonia eram “superiores” ao ritmo? Não foram os povos (europeus) que tinham melodia e harmonia, mas não tinham complexidade rítmica? Quem acreditou nessa história?
A complexidade dessa orkquestra é sinfônica. As composições de Lettieres (arranjador de Ivete Sangalo, com muito orgulho, e já vi tanto preconceito ao seu trabalho por causa disso!) são incríveis. E muitas vezes elas nos fazem dançar. E outras tantas, nos fazem voar, e baixar (os santos). É clássica ou é popular? Quem está catalogando isso?
A base e a mesma de Ilê Aye, Daniela Mercury, Olodum, e também de Ivete, Carlinhos Brown, do Chiclete e de É o Tcham! A mesma do axé que você tem preconceito. A mesma!
E ela renasce, mais pura e mais moderna ao mesmo tempo.
Lettieres deixa claro no fim em nome do que, homenageando quem, e inspirado em que nasceu seu projeto: os percussionistas da Bahia. A tradição viva nascida e mantida sagrada no candomblé, e desdobrada em ritmos e festas profanas e depois na indústria cultural, e depois na indústria da micareta (cheia de picaretas).
E “deixa eu dizer o que penso”…Não é pouco o que esta Orkestra faz. Ela questiona os preconceitos culturais e sociais que afirmam a pretensa “superioridade” da música clássica sobre a música rítmica da África.
E não é a toa que algo assim nasça do Brasil, conforme esse Brasil vai ficando em pé em suas pernas e acredita em si, meio sem que Rio e São Paulo se dêem conta da dimensão da coisa (com exceção de gente muuito esperta, como o Charles Gavin). Que nasça de músicos de diversas origens sociais com muito estudo, juntos com percuissionistas que aprenderam o ofício nas periferias, blocos e terreiros. Que isso seja indiretamente financiado pela máquina popstar de Ivete Sangalo. Que o Brasil cumpra esse papel de colocar a música da África no centro do palco e “comprar a briga” sobre seu papel.
Villa-Lobos, Moacir Santos e todos os orixás sorriem…
Agripino maravilha a sua análise muito sobre a Rumpilezz eu não só concordo como reintero.
Jurema Paes
Efeito Rumpilezz
Aláfia significa caminhos abertos e esses são os infinitos caminhos da Orquestra Rumpilezz do maestro Leitieres Leite, caminhos abertos inclusive para os deslocamentos, dentre tantos, o estético e político. Nessa orquestra nada está separado, corpo e alma, física e metafísicamente falando. Os componentes estéticos musicais da orquestra são visivelmente mestiços e antropofágicos no sentido mais radical que a antropofagia possa apresentar, o sentido evolutivo da transformação acrescentando ai soma, retribuição, libertação e inclusão. O prazer estampado em liguagem musical na orquestra e em seus componentes musicais “está na festa da composição para a qual contribui, não no narcisismo isolado da sua especial participação competitiva”(Amálio Pinheiro – PUC SP), a orquestra contribui com a cena musical brasileira em que música, dança e pensamento não se separam, onde é possível estar vivo, ativo de corpo inteiro. A Rumpilezz é celebração, devoção e libertação, põe o corpo e mente pra pensar e dançar, ela reluz em pensamento mestiço, onde possíveis áfricas em diáspora se encontram.
A Rumpilezz propõe reflexão ao seu estado Bahia enquanto marca publicitária e política enquanto discurso turístico, ela propõe sustentabilidade, ela propõe que se repensem as estratégias e os discursos miméticos, ela chama a atenção para o entorno, para o húmus que continua vivo ainda lá, traz em linguagem estético musical o check mate do em aberto, do democrático, do auto-sustentável e inclusivo, faz uso sincado do termo diversidade pois o utiliza em seu processo contributivo e educativo e não apenas em um processo ilustrativo e decorativo. A Rumpilezz dignifica, é matéria prima para o solo e não vassoura de bruxa, é uma força orgânica da natureza, por isso ela também se faz útil para o pensamento reflexivo de novas políticas culturais, discursos e comportamentos, é epicentro que pode ser referência viral para outras instâncias da sociedade causando deslocamentos. Esse talvez seja o “efeito Rumpilezz”.
Rumpilezz traz nas suas entranhas o Amor à música.
Acompanhei de perto o processo evolutivo de todo o trabalho do maestro e amigo Letieres Leite e sei o quanto lutou para expor suas idéias ritmicas, harmônicas e melódicas ao mundo. A Rumpilezz traduz a história da música negra nascida na África e estilizada na Bahia (através do Rum, Rumpi e Le, instrumentos usados nas claves ritmicas dos rituais de candomblé) e nos EUA (pelos negros americanos que se reuniam para improvisar após a meia-noite, jazz after midnight-JAM). Letieres, além de ter estudado sax, flauta e orquestração na europa, também estudou, pesquisou e transpirou os ritmos afro-baianos para fazer fluir a complexidade das harmonias e melodias dos instrumentos de sopro sobre a alegria contagiante dos instrumentos percussivos. Além disso, selecionou músicos do mais alto quilate de Salvador (que amam, sobretudo, a música) para compor uma das mais belas páginas da história da Música Popular Brasileira.
Viva a Rumpilezz, Viva a Bahia, Viva Letieres Leite!!!
só para dizer que acho a orkestra talentosamente adorável!!!
alguns detalhes:
1) Carlinhso Brown não faz nem nunca fez axé-music, e sim axé-xirê. Ele e a Timbalada sempre se opuseram, na prática, ao axé-sistem que privatiza a rua e vende abadá;
2) É O Tchan não é axé-music. É pagodão. O pagodão também sofreu com a dominação monopolista e plutocrata do axé, tanto quanto o rock. E merece respeito por isso;
3) Ilê Ayê e Olodum não fazem axé music. Fazem samba-reggae e o primeiro, às vezes, ijexá.
de resto é isso aí: a Rumpilezz é a Bahia a plenos-pulmões.
Quero registrar também o meu respeito e a minha admiração pelo maestro Leitieres, pelos músicos da Orkestra e pela música.
Rumpillez – um orgulho nacional.
Viva a música brasileira!!
O Rumpilez é uma das manifestações mais brilhante que aconteceu na bahia depois do acordes verdes, realmente o maestro leite é um génio sem limites – a bahia se orgulha de ser a mãe dessa maravilha .. será essa a nova tendencia do axé music?
Vida longa maestro
Nicolau Rios seu humilde admirador
Faço côro ao que se fala pelos quatro ventos por aí afora que a rumpilezz do Maestro Leitires Leite, como bem coloca nossa Jurema Paes, é: “um epicentro viral que pode causar deslocamentos…”
Acredito na forca intelectual que a coisas tem quando cumpridas ao seu devido valor utilizadas de tal forma buscando um denominador comum em inspiração, vivência e estudo. E se esta tal de Rumpilezz é isso tudo que sei que é…Então, salve o prazer de uma Novíssima Maré!!!! Viva o povo da Cidade da Bahia!!!!! Axé!
Eu já sabia!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Fiquei e ainda estou emocionado com a análise , se é que podemos analisar tal feito, desse redator que eu não sei o nome porque não consta nos créditos, mas, como ele disse, é superlativo mesmo, sem exagero algum. !!!VIVA A RUMPILEZZ!!! Se existe a perfeição Letieres e a Orkestra Rumpilezz estão bem próximos. Sou guitarrista, baiano e me orgulho de ter á minha disposição para ver, ouvir, e estudar trabalhos como esse, sem sair de casa.
A inacreditável Orkestra Rumpilezz vem para desconcertar, construir, desconstruir e emocionar, de verdade. Viva o maestro Letieres Leite! Viva a Rumpilezz e seus músicos! Viva a Bahia! Axé!
Tem lugar pra um “roadie” aí Leite?rsrs
Como diria o mestre Anunciação; “Não faria melhor”… Nossa geração precisava de uma Orquestra assim. A Rumpilezz nos enche de orgulho! Nosso Santo fez milagre! Axé!
A todos,
Obrigado pelos comentários e elogios. Recebo todos como um forte abraço.
Agradeço o apoio à este trabalho, que tem como objetivo maior homenagear o incrível Universso Percussivo Baiano e, é claro, os percussionistas da Bahia.
Forte Axé a todos!
P.s.: Querido Ivan, a sua vaga está sempre garantida. Pode vir fazer a audição para roadie! rsrs
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