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Desfazendo 10 mitos sobre cinema ou eu também posso cagar regras!

1 ) A Novelle Vague francesa não era contra o cinema americano. Muito pelo contrário.

2 ) Alfred Hitchcock fazia cinema comercial. Foi muito depois do começo da sua carreira que descobriram que aquilo era arte.

3 )  A diferença entre cinema comercial e cinema de arte não é definida por um passar no Cinemark e o outro no Espaço Unibanco.

4) Quentin Tarantino era bom, ficou ainda melhor nos seus últimos filmes. Não o contrário.

5) O dito “cinema de arte” é na realidade um segmento comercial voltado para aqueles que querem consumir algo que se parece com arte.

6 ) Cinema francês contemporâneo e cinema independente americano em geral não querem dizer nada sobre a qualidade de um filme.

7 ) Desconfie quando muita gente no Facebook chama um filme de “genial”.

8 ) Tropa de Elite 2 “de esquerda” não redime Tropa de Elite 1 “de direita”.

9) Rede Social é bom e tem muito trabalho de direção, sim senhor.


10) Para gostar, se divertir e conversar sobre cinema não precisa ser esnobe. E é bom ter a cabeça, os olhos e os ouvidos bem abertos!

PS: Colaboração fundamental da irmã Paula Chrispiniano nessa compilação.

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Globo X Vida ou porque eu não assisto BBB ou novela

Já notou como a Globo não fala de cinema, a não ser os lançamentos da Globofilmes? Ou de livros? Como praticamente não tem agenda cultural, exceto peças das pratas da casa no Video Show? Que os jogos de futebol a noite começam “depois da novela X” e não em um horário determinado?

Não é coincidência ou teoria da conspiração. Existe uma coisa na emissora chamada “rec” (de recomendação), que determina que a Globo não noticia sobre livros e cinema, assim como só noticia depois de acontecidos jogos de campeonatos, como o espanhol e o italiano, que ela não transmite. Uma das justificativas é para não fazer “propaganda gratuita”. A outra questão é que a emissora os considera concorrência.

Para uma empresa com as ambições, histórico e a escala monopolista da Globo é ingênuo achar que seus concorrentes são apenas a Record, Band, SBT ou os canais a cabo (onde ela tem participação na assinatura e nos canais da Globosat). As novelas e os BBBs tem que ser consumidos como hábitos e “fenômenos culturais” amplos. Tem que ocupar um espaço midiático e de tempo do público enorme. Assim, concorrem com tudo. Concorrem com a vida.

Tem que tomar seu tempo, toda a noite, a cada noite. Suas conversas com os amigos e as famílias. O espaço das notícias nos jornais e portais, inclusive de outras empresas. Suas preocupações e um pouco da sua ansiedade.

A minha questão com eles então é simples: não merecem meu tempo. Bem, posso ceder um pouco para critícá-los…

São má dramaturgia, no caso de 90% das novelas, e mau karma (no caso do BBB) que ocupa tempo demais para pouco retorno. Respeito as pessoas que trabalham, seus talentos e seus empregos, deve ser divertido e trabalhoso fazer. Mas tenho coisa melhor com meu tempo que assistir.

Não é questão de se achar melhor, ou que não posso perder tempo. Eu acho que eles não merecem também seu tempo, embora possa fazer com ele o que quiser (claro). Tempo também existe para ser “perdido”, para ser livre, mas prender-se ao hábito de BBB e/ou novela não é tempo livre.

São entre 1 até 3 horas por dia, seis dias por semana, sempre. Cada novela tem mais de 120 capítulos/horas. São pelo menos 10 livros. 60 filmes. Você poderia aprender a cada novela a tocar um instrumento musical. Umas 3 novelas, um idioma novo. Ou sair com os amigos. Ou fazer exercício. Ver um show ou teatro. Ou conhecer os vizinhos, povoar as ruas do seu bairro e fazer renascer um espírito de comunidade. Escrever um blog. Ou mesmo encher a cara e falar besteira com os amigos (beba com moderação).

Ou um pouco de cada.

O hábito, ou vício, da programação “tudo a ver” é uma preguiça cotidiana perante a vida. É inércia depois de um dia de trabalho, que gera mas inércia. É um hábito privado e fechado. Não a TV em si. Mas como se consome TV nesse conceito de grade da Globo (ainda bem, cada vez mais em decadência) que enfim, é insustentável e fruto de outro tempo, não tem como se manter concorrendo com o mundo.

Nas redes sociais as pessoas adoram falar de TV. Isso é natural. As redes sociais, principalmente o twitter, servem como um espaço onde as pessoas voltam a compartilhar um senso de pertencimento ao assistirem a mesma coisa, de algo comum, que havia sido perdida com a multplicação de canais e a vida urbana cada vez mais solitária. (A Fast Company do mês passado publicou um artigo sobre a integração Twitter+TV)

Mas eu prefiro esse pertencimento para as coisas utéis e inúteis mais espontâneas ou mais importantes (como as eleições, cuja presença irritou tanta gente nas redes) do que para uma máquina repetitiva de dragar e vender nosso tempo e atenção (que é o verdadeiro produto que a TV repassa aos seus anunciantes), e produzir esquecimento.

Os BBBs, particularmente, são sádicos por natureza, com a exploração das nossas tentações de julgar as pessoas e pretensas polêmicas de costumes em uma arena que é, quase por natureza, 90% dos preconceitos (não nego que possa ter exceções, mas a natureza do jogo e dos julgamentos é por si, cruel e moralista).

Um grande professor que tive, Arlindo Machado, gosta de dizer que não podemos esquecer o conteúdo do que passa na TV ao criticá-la. BBBs e novelas em geral são tão ruins que nem quero entrar nesse mérito. Para mim vem antes a questão da forma e a presença desses hábitos na nossa vida.

Colocando de outra maneira: já imaginou que chato seria um reality show onde todos os participantes apenas ficassem assistindo TV? Sem graça, né? Opa, não é a sua vida?

PS: Esses dias, meio por acaso, dei de cara com o filme “Wonderwall”, de 1968. O filme conta a história de um cientista solitário que faz frestas na parede e fica fascinado com a vida e a mulher de seu vizinho, um fotógrafo de publicidade (não por acaso) “descolado” (sic) que faz festas, sexo e sessões de drogas e fotografias no seu apartamento. O simbolismo, o ritmo, trucagens, psicodelia e o colorido fantástico, além de certa ingenuidade, são típicas da época. Mas enfim, por outro lado atualíssimo, sobre espiar ao invés de viver.

 

 

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O futuro da música já é…

Aconteceu em São Paulo o Fórum de Cultura Digital, evento promovido pelo Ministério da Cultura para promover subsídios para as políticas públicas de Cultura Digital (Direitos Autorais, infra-estrutura, comuicação etc…).

O Forum tem plenárias temáticas e paralelo um seminário incrível sobre os temas discutidos, com vários dos pesquisadores nacionais e internacionais mais interessantes sobre esses temas.

Os seminários foram transmitidos pela web. http://www.ustream.tv/channel/culturadigital-br E esse vídeos ficam arquivados.

Vou colocar aqui no site o vídeo que eu fiz das partes II e III da incrível apresentação do Ronaldo Lemos sobre o novo modelo de negócio na música. Como o vídeo saiu um pouco tremido, se incomodar  sugiro abrir outra aba, navegar e só ouvir e ver no vídeo partes que te interessam (existem fotos e gráficos bem legais). Mas abaixo dele tem o link para o vídeo completo das palestras de todo o debate. Vale a pena para quem tiver mais tempo. As quatro primeiras apresentações valem muito a pena. A última, da Juliana Nolasco, da Coordenação da Economia de Cultura do Minc, sinceramente foi um pouco fraca em relação as outras, ela assumiu a coordenação faz pouco tempo. Os demais palestrantes:

. Daniel Granados (Producciones Doradas)
. Pablo Capilé (Circuito Fora do Eixo)

Ladislaw Dowbor (Economista e professor da PUC-SP)

PALESTRA RONALDO LEMOS – PARTE I

PALESTRA RONALDO LEMOS – PARTE II

DEBATE COMPLETO NO LINK ABAIXO

http://www.ustream.tv/recorded/2600559

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Um caso curioso de financiamento público da cultura

Acho que este post todo é mais uma desculpa para falar de um filme que eu adoro…Calafrios (Shivers), do cineasta canadense David Cronnenberg. O que detonou todo este post foi essa entrevista (em inglês) que está debaixo do texto sobre este que foi seu primeiro filme e que levanta uma discussão interessante sobre o financiamento público à cultura.

O nome original do roteira era “A orgia dos sanguessugas”. E a história mudou de nome, mas seguiu fazendo jus ao título inicial. Um cientista desenvolve um parasita que libera as repressões sexuais, para dizer o mínimo, do seu hospedeiro humano. O experimento dá errado, e os tais parasitas começam a se espalhar por um moderno e isolado condomínio fechado. Um médico e uma enfermeira vão tentar descobrir o que está acontecendo e enfrentar a ameça.

Calafrios foi feito com recursos de um fundo do governo canadense dedicado ao cinema. Provavelmente Cronnenberg é o cineasta mais renomado, respeitado e estudado de todos os que já foram subsidiados com estes recursos. E ao mesmo tempo teve uma das carreiras mais bem sucedidas do ponto de vista comercial. E todas estas características já estão nessa sua estréia. E por isso mesmo o financiamento público do filme foi um escândalo.

Parte do brilhantismo de Calafrios está na forma e na maneira que ele trabalha referências do terror para compor um filme que é ao mesmo tempo assustador irônico e divertido, mas também profundo, muito bem conduzido e subversivo. Se você olha um filme superficialmente, pelo tema, ou se não entende o trabalho com gêneros, não vai sacar a força dele. Ao mesmo tempo ele certamente é muito forte e atinge em cheio as pessoas mais desarmadas e os públicos mais diversos. Ele tem tanto uma linguagem comercial que funciona quanto muita profundidade.

E como Cronneberg conta, a burocracia, a direita e os políticos canadenses quando o filme foram lançados, não entenderam nada ou entenderam demais. Importantes colunistas na imprensa condenaram o governo canadense por financiar o que eles enxargavam como um ultrajante filme que misturava dois gêneros malditos, o cinema de terror e o filme pornô.

Calafrios é evidente um incômodo para a “moral e os bons costumes”. Não é simplesmente um filme de terror, embora inteligente é vendido assim, e não é um filme pornô, muito diferente disso.

No final Calafrios foi o primeiro filme do programa governamental a ter bilheteria suficiente para pagar todo o financiamento público. E é uma pequena obra-prima do cinema, feita por um então jovem cineasta que para mim está entre os mais importantes do mundo em atividade.

Você imagina se um filme desse tem alguma chance de ter financiamento de um instrumento de mercado como a Lei Rouanet?

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Uma bobagem e uma contra-bobagem sobre o Vale Cultura

Bobagem escrita por Gilberto Dimenstein, famoso defensor do “markenting social”. Não sei qual é a opinião dele, sobre a Lei Roaunet (nunca ouvi nada contra, mas pode ser que tenha escrito) mas valia avisar no texto que esta também é bancada pelos contribuintes, e bem menos democrática que o Vale Cultura.


http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/gilbertodimenstein/ult508u600784.shtml

Postado antes do texto do Dimenstei foi este excelente do Leonardo Sakamoto. Ou seja, não é uma resposta ao texto do Dimenstein. Mas é uma análise perfeita do texto e postura dele. Tanto melhor que ainda foi escrito antes. Aliás, esse pessoal não acreditava em mercado, em liberdade de expressão e escolha do consumidor? Quando foi que isso sumiu? Quando chega a vez do pobre escolher?

http://colunistas.ig.com.br/sakamoto/2009/07/26/vale-cultura-preconceito-elitismo-e-tecnobrega/

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